Bird
Há muito que não escrevo um comentário sério sobre um filme aqui neste espaço. Por isso, aqui vai...
"Bird" é tudo aquilo que o mais recente "Ray" quis ser mas não conseguiu ser. São imensas as semelhanças temáticas entre estes dois biopics - duas lendas do mundo da música, aproximadamente da mesma época, com o mesmo "background", com o mesmo génio irreverente, com as mesmas dificuldades emocionais, com os mesmos demónios interiores...ainda que com epílogos diferentes nas respectivas vidas - mas tão diferentes os resultados finais. Se por um lado um dos filmes apresenta uma visão extremamente simplista e routineira, feita para ser absorvida e descartar de imediato, o outro revela um trabalho de maturidade e complexidade singular. A realização de Clint é suave e cândida, quase que crepuscular na definição da vida atormentada de Charlie Parker. O filme é ritmado por uma aura de musicalidade jazz, que marca o timbre narrativo e que nunca nos faz desligar emocionalmente daquele homem, levado à tela numa personificação fabulosa de Forest Whitaker. E mesmo não estando ao nível das melhores obras de Eastwood - por vezes é demasiado alongado e difuso - é um filme que respira bom cinema. E faz-nos lembrar que "Ray" tinha semelhante potencial, só pecou em ter um mau realizador.
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